A chuva que havia assolado o local e inundado boa parte do território já havia se cristalizado e dado lugar a uma nevasca singela, os cheios rios tinham se congelado em uma camada fina de gelo, a temperatura marcava exatos -12 graus quando Frank resolveu sair da caverna pela abertura no noroeste, esta era diferente, notou que parecia ser feita por mãos humanas, mas ignorou o fato diante de sua irrelevância e prosseguiu com passos curtos e impacientes.
- Já deveria ter chegado... - Falou consigo mesmo, e então suspirou - Acho que não tenho escolha. - Olhou de relance para um galho, enquanto falava sozinho, e com um gesto simplório de suas mãos moveu o galho tal como uma rajada de vento o faria, curvando-o para a direita, e com sussurros Frank contou - 1...2...3...4...5 - E então repetiu o gesto, fazendo o galho dobrar-se mais uma vez, desta vez a parte mais fraca da madeira cedeu devido a repetição do movimento, e o galho foi arremessado até a extensão do empurrão gerado pela força de um único movimento.
Caminhou até o galho quebrado e pegou-o para examinar, a madeira era certamente carvalho e isso gerou uma breve explicação do porque demorou tanto para romper-se, prosseguiu, abrindo caminho pela mata fechada, tinha um local para ir, e não precisava ser rápido e sim cauteloso, estava no berço da criminalidade e não iria demorar para que um ou dois o abordasse em busca de pertences ou ouro, de certo não desejava ser roubado, já tinha em mente o que desejava fazer com suas riquezas, o caminho ia surgindo lentamente a sua frente, o mato ia sempre ao chão até três metros a sua frente, até que caminhasse até lá, já haviam se passado sessenta segundos ou mais, e foi assim até que finalmente encontrou o rio pelo qual se guiava, seguiu pela rio congelado, procurando um resquício de luz solar escondido nas nuvens em busca de uma orientação sobre as direções que pretendia seguir, estava próximo do local, ao menos isso sabia, talvez se seguisse ao norte, e em seguida para noroeste, era difícil dizer, boatos nasciam em bocas diferentes e apontavam direções diferentes, mas a descrição era sempre a mesma, uma caverna que só certas pessoas podiam ver, decerto estaria mofando, que outro motivo teria para não aparecer durante mais dois séculos se não fosse a sua total extinção?
- Talvez seja só uma lenda. - Disse por fim, quando falhou em encontrar as direções.
- Precisa de uma bussola senhor? - Uma voz chamou-o, mas não era a voz que esperava ouvir, se virou rapidamente, para dar de cara com um ninja maltrapilho e caolho, outros dois atrás deveriam ser gêmeos de cicatrizes, pois ambos tinham uma horrenda que lhes cortava diagonalmente a face, fora isto pareciam ser diferente em todo o resto, um era branco o outro era afrodescendente.
- Apesar de eu precisar, não acho que teria alguma com você. Ou teria? - Quis saber, mas o sorriso malicioso do homem já dizia tudo, não pretendia ajudar Frank, e avançou com uma arma na mão para deixar isto bem claro, ele era bom em corpo a corpo, era mais rápido, certamente, e subjugou o rapaz de cabelos brancos de todos os modos, mas não parecia ser muito inteligente, a sua ferocidade era indevida em um local como aquele - Devia ter mais cuidado quando batalha pisando em gelo fino - Avisou-o Frank, justamente quando o barulho de gelo rachando assolou seus ouvidos, e jogou o desconhecido no fundo do rio tão rápido que ele não teve tempo de controlar o fluxo de seu chakra para permanecer em pé, com a temperatura congelante do rio, ele não voltaria a superfície a menos que recebesse ajuda, era então a vez dos gêmeos, tinham ataques combinados, e vinham de diferentes direções, isto é provavelmente o que os levou a adquirir tamanha cicatriz, eram lentos mas usavam a sua vantagem numérica muito bem, seus ataques era brutais e faziam com que Frank recuasse, quando notou já estava entre o mato, longe do rio, e agora os ataques vinham de direções aleatórias e surpreendente, tinham o acuado por completo, isto era certo, com toda aquela vantagem já conseguiam cortar a pele do rapaz de forma quase que profunda, foi então que finalmente se irritou e quando surgiram por mais uma vez o rapaz os lançou longe movendo os braços, expulsou tudo num raio de cinco quilômetros e em 360º, isso deveria ser o suficiente para lidar com pessoas como aquelas, mas foi surpreendido com o som de raios vindo em sua direção, teve tempo de para-lo com as mãos, sentiu o braço tremer, enquanto as ondas passavam por suas moléculas, tinha que absorver, mas sabia que ainda não era capaz, quando terminou, pode ver as marcas daquilo que não conseguiu "engolir" na palma de sua mão.
- Como, deveria ser peixe frito neste momento! - Disse perplexo o molhado antagonista da historia.
- Permita-me manter meus segredos, da mesma forma que mantém os seus - Respondeu Frank, imaginando como ele tinha saído do rio, naquelas condições, haviam marcas profundas de gelo grudado em sua pele, e ele tremia a cada passo que dava, se aproximava, e de tempos em tempos, lançava rajadas elétricas em direção ao rapaz, que se defendia apenas utilizando as mãos, e a cada vez que utilizava-se daquele recurso ele sabia que ficava melhor, mais fácil, e não só sentia-se defendendo, mas seu chakra cresciam tal como era de ser, afinal, era uma esponja absorvendo o que lhe era lançado a sua volta, não sabia o porque o homem continuava, talvez ainda não tivesse percebido - É melhor parar. - Avisou-o novamente, não queria que ele morre-se só queria seguir seu caminho sem interferências, e talvez aquilo fosse pedir de mais.
- Calado, monstro! - Gritou de volta o homem, enquanto ainda continuava os seus ataques inúteis, por fim, lançara uma rajada tão fraca e lenta que Frank apenas deslizou para o lado, e a deixou passar, observando com os olhos, enquanto ouvia o desabar do homem na terra, olhou-o com pena.
- Não consegue se manter longe de problemas? - Falou uma voz por trás de si, esta era a que ele realmente queria ouvir. Virou-se para encarar os olhos brancos e desiguais - Eu te esperei, mas aparentemente tinha coisas melhores para fazer. - retrucou Frank, olhando-a.
- Eu disse que estava procurando, mas confesso que cheguei aqui a tempo de ver os seus pequenos problemas, levou dez anos, mas finalmente parece que esta se assemelhando a ele. - Sua voz tinha um certo tom de desinteresse, mas o rapaz sabia que era um elogio, não importava, estavam amarrados até que suas missões naquele plano terrestre terminassem.
- Achou? - Quis saber o rapaz.
- Não seja impaciente, venha vamos voltar. - Retrucou.
- Estou começando a achar que tudo não passa de uma farça. - Falou, enquanto dava meia volta, procurando o caminho por onde viera, ela não lhe respondeu, apenas guiou-se pelo caminho em silêncio, enquanto os pequenos raios do sol se tornavam cada vez menores, até deixarem de existir.