[Missões] Kojiro

 
 
     O frio no dia de hoje era maior do que o rotineiro de Kiri. A névoa estava, aparentemente, um pouco mais densa e presente, dificultando um pouco mais a visibilidade, ainda que fosse coisa pouca. O movimento nas ruas havia diminuído bastante graças a isso, porém, o comércio ainda funcionava, como sempre. O passos tranquilos de Kojiro encontraram um obstáculo que o fizera parar antes de alcançar seu destino: estava cara-a-cara com uma loja de doces. A dona da loja empilhava algumas caixas com dificuldade, foi então que o rapaz teve uma brilhante ideia, ajudou-a rapidamente, ganhando em troca algumas balas e pirulitos, por que não? Sorridente, voltou ao seu trajeto, um pirulito na boca, mãos no bolso do casaco e sorriso estampado na cara. Vestia o habitual conjunto azul escuro, composto por uma blusa de mangas longas e uma calça, além do casaco em um tom mais claro de azul, com uma espécie de pele branca contornando o pescoço, requisitado pela súbita alteração no clima local.
     Finalmente estava ali, na parada final de sua rota. O prédio do mizukage estava logo em frente do rapaz. Entrou a passos firmes e lentos, com as mãos no bolso. Rumou diretamente para o gabinete do líder da vila. "toc toc toc", foi o barulho emitido por suas leves batidas na porta, possivelmente ignoradas. Segurou a maçaneta, girando-a sem pressa, até que a porta estivesse completamente aberta. A sala estava vazia. Ou melhor, vazia falando-se de vida. Objetos, móveis, papéis, isso havia de sobra. Antes de sequer pensar em entrar no local, uma mão segurou seu ombro, Kojiro olhou para trás, fitando assim um jounnin de Kiri. - Pois não? - indagou o mais experiente. - Poderia me dar uma missão, ou algo para fazer? - respondeu Kojiro, com outra pergunta. Sem que nem uma palavra fosse dita, o jounnin dirigiu-se para a mesa do Mizukage, pegou um pergaminho e entregou nas mãos do rapaz, saindo do local. Ele não era muito amigável, muito menos gostava de conversar, pelo que parecia.
 
 
     Encontrou-se com alguns membros da ANBU, após ter deixado a vila, a algumas horas. Era estranho estar ali, todos os homens ali presentes tinham o mesmo padrão de vestimentas, todos usavam sobretudos escuros e máscaras, provavelmente não tinham nem sequer um nome. Exceto ele, um chunnin de Kirigakure no Sato, escalado para uma missão dessas. Fazia algum sentido? Em sua mente, nenhum. - Devemos agir rápido, ele pode estar morto nesse momento. - disse um dos homens ali - Por mais que esteja morto, não podemos deixar o corpo dele em mãos inimigas - disse outro, ou talvez fosse o mesmo, Kojiro não pôde identificar nem diferenciar as vozes. Talvez, graças as máscaras. Deram-lhe um pequeno mapa do local e separam-se em quatro grupos de duas pessoas, cada um cobrindo uma área, sendo elas: norte, sul, leste e oeste. Kojiro e um ANBU ficaram responsáveis pelo norte, local onde o homem sequestrado foi visto pela última vez.
     ▬ Está com medo? Já participou de alguma missão antes? - questionou o mascarado ao seu lado. Kojiro mantinha o olhar reto, atento a tudo ao seu redor, não precisou olhar para ele para responder. - Não, provavelmente não é medo, talvez seja ansiedade. Já realizei uma ou outra missão, mas nada nesse nível. - respondeu em um tem seco, não queria se distrair, completar o que estava fazendo sem falha era seu objetivo. Ao que tudo indica, seu parceiro entendera isso, pois ficou quieto desde então.
     Enquanto saltavam por entre as árvores, o rapaz percebeu uma movimentação que não era oriunda de nenhum dos dois. Podia ser apenas um animal, não sabia, teria de verificar. Parou de repente, esticando o braço de forma a segurar o peito do parceiro, parando-o também. O ANBU parecia confuso, não sabia o que estava acontecendo. Kojiro balançou a cabeça em direção à moita que havia se mexido, como se perguntasse: consegue saber o que tem ali? O homem balançou a cabeça negativamente. Em um ato rápido, o chunnin fez alguns selos de mão, saltando e chocando as solas de seus pés, uma contra a outra. Uma fina barreira de chakra formou-se, tendo ele como centro, origem. Sim, realmente havia algo ali, detectado graças ao Tengai Hojin. Esse não era um jutsu de rastreamento, não podia detectar o chakra ou coisa similar, apenas revelava se alguém estava dentro do domo e onde ele estava. Ai é que está, outra coisa foi detectada, enquanto a barreira aumentava, alguém entrou nela sem querer, à esquerda, cerca de dez a quinze metros de onde estavam. Esse segundo alvo, era relativamente maior que o primeiro. Ao que tudo indicava, o primeiro era um simples animal, o segundo poderia ser o que buscavam. Kojiro então saltou rumando para a nova direção, sinalizando para que o ANBU seguisse-o.
     Provavelmente, aquele era o local. Em meio as árvores e moitas, duas rochas criavam uma entrada subterrânea. Na frente delas havia um homem adulto, provavelmente um shinobi inimigo. Estava despreocupado e à mostra, não devia ser um oponente fraco. O parceiro de Kojiro olhou para ele, balançando a mão, apontando para o homem - Kage Bunshin no Jutsu - disse ele, saltando ambos (ele e o clone) em direção ao inimigo. Kojiro utilizou-se de um shunshin, enquanto o ANBU distraia-o, aparecendo atrás do alvo. - Doton: Doken! - proferiu logo após aparecer, desferindo um soco com o braço coberto de rocha nas costas do guarda, que caiu no chão, logo em seguida. Morto ou vivo, isso não importava agora. Correu para dentro do esconderijo, juntamente com seu parceiro.
     O lugar lá dentro não combinava com a floresta que o escondia. Era todo aberto, um amplo espaço, algumas vigas naturais feitas de rocha o mantinha em pá. Havia inclusive um pequeno lago ao canto. Ao fundo, podia-se enxergar duas figuras, uma deitada, inconsciente. A outra, com a mão sobre a testa do deitado. Quase que ao mesmo tempo em que entraram no local, os outros seis membros da ANBU apareceram ali, eles provavelmente tinham algum meio de comunicação entre eles. Kojiro permaneceu parado, enquanto os outros distanciavam-se, não sabiam se haveria somente aqueles dois, ou se alguma surpresa os aguardava. De repente, cinco outros homens apareceram, saindo dos corredores que levavam para os quartos do local, provavelmente. Os membros da ANBU entraram em batalha, sete contra cinco, enquanto o chunnin de Kiri andava reto, em direção aos outros dois. Somente ao se aproximar, percebeu do que se tratava: o ANBU sequestrado estava caído no chão, sua máscara estava ao lado de seu rosto. O homem com a mão em sua testa estava extraindo informações, provavelmente através de algum genjutsu. Kojiro pôs-se a correr, com uma kunai em mãos, fincando-a nas costas do usuário de genjutsu. Ele estava sem defesa alguma, provavelmente contava com seus guardas para fazê-la. Os sete membros da ANBU então aproximaram-se, os cinco inimigos estavam todos caídos no chão, mortos. - Você foi realmente útil, mas... A partir daqui, é jurisdição única e exclusivamente da ANBU. - o rapaz então concordou com a cabeça e saiu do local. O que aconteceria com o membro capturado, se ele permaneceria vivo ou se iria morrer ali, definitivamente não era de seu interesse. Abriu mais um pirulito e então retornou para Kiri

 
 
     Havia recebido outra missão e, novamente, não havia sido do mizukage. Será que esse ser realmente existe? Ou se tratava de uma lenda? Kojiro nunca havia o visto, devido a isso, indagava-se coisas bobas como tal. Dessa vez, a introdução ao que deveria ser feito havia sido bem objetiva, localizar, matar e recolher seu alvo. Pegou tudo o que tinha direito, desde fios de nylon até fuuma shurikens. Guardou todos os objetos dentro de sua bolsa de armamentos, posicionando-a no lugar de sempre: em sua cintura, na parte de trás, no lado direito. Pegou também alguns doces que mantinha estocado secretamente em sua casa. Se tinha algo que ele definitivamente não dividia, eram seus doces. O clima estava ameno, a névoa, que vez ou outra aumentava ou diminuía, havia cessado um pouco. Claro, nunca iria desaparecer por completo, mas nesse momento, era possível enxergar uns quinze metros a sua frente, podia ser considerado um dia limpo. Rumou para fora da vila, com um pirulito entre os dentes. Trajava seu conjunto azul-escuro, incluindo a blusa, por mais que não estivesse frio, ela era bonita.
     ▬ Boa sorte, garoto. - Proferiu um guarda da vila, no momento em que Kojiro passou por ele. Talvez, missões de rank B para cima, fossem de conhecimento público. Ou então ele apenas havia desejado sorte, sem saber o motivo. O rapaz sorriu em agradecimento, fazendo uma breve reverência. Mantinha as mãos dentro dos bolsos, não por frio nem por qualquer outro motivo, era algo banal, era simples mania, costume. Com um shunshin, distanciou-se o máximo que pode da vila, seu objetivo era um nikennin, um foragido, ele não estaria nas redondezas, não estaria nem mesmo perto das redondezas. Ao menos, esse seria o modus operandi de Kojiro, caso fosse um nukennin. Iria partir desse pensamento e, assim, procuraria por seu alvo, sem nem mesmo saber como ele era.
     ▬ Vamos agilizar as coisas. - disse juntando as mãos em um selo - Mizu Bunshin no Jutsu. - proferiu, fazendo com que três clones surgissem a partir da umidade e poucas poças de água ali presentes. Seguindo a mesma estratégia de sua última missão, cada bunshin correu em uma direção, totalizando norte, sul, leste e oeste. Eles não podiam distanciar-se tanto do original, caso contrário, se desfariam. Cobriram a distância máxima que podiam e então voltaram, realizando o mesmo processo várias vezes. Caso algum clone fosse destruído, o original saberia instantaneamente, caso algum clone não chegasse ao ponto de encontro, era aquela a direção correta, essa era a estratégia em vigor ali. Por várias vezes, todos os quatro se reencontravam, em algumas, um ou outro demorava a chegar, mas era por ter se perdido no caminho, aquilo não estava dando tão certo assim. Em todo caso, iriam continuar, até bolarem algo novo e melhor. Enquanto corria para o norte, uma informação invadiu a mente de Kojiro, um de seus clones havia encontrado um homem correndo na floresta e, esse mesmo homem, havia destruído o clone. Isso havia acontecido ao leste. Disparou naquela direção, provavelmente se tratava do alvo de sua missão.
     Os três Kojiros encontraram-se, todos em silêncio, nenhuma palavra havia sido dita. Estavam embrenhados em uma mata densa e fechada, na margem do oceano. Havia um barco ali, provavelmente a saída de emergência do nukennin. Eis que o mesmo aparece, saltando por entre as árvores, em sua máxima velocidade, era difícil de acompanhar. Os clones correram na frente, seguidos pelo original a cerca de cinco metros atrás, em formação de cone. Os dois da frente saltaram sobre o nukennin, iniciando uma batalha. Alguns selos foram atuados pelo original, que agora assoprava uma névoa incrivelmente densa de sua boca. Kirigakure no Jutsu. Sacou uma fuuma shuriken de seu armamento, abriu-a e com um giro para dar mais velocidade, lançou-a reto, na direção do nukennin. Em meio àquela névoa, ainda mais lutando contra os dois clones, seria bem difícil defender-se. Mas isso ainda não era tudo. Levantou a mão em um selo e, ao lado da fuuma shuriken que havia sido direcionada ao homem, outra apareceu. Realmente, o Kage Shuriken Bunshin no Jutsu não era tão inútil, por um momento, ficou feliz de tê-lo treinado.
     Tudo aconteceu de forma muito rápida, Kojiro mal teve tempo de acompanhar. O nukennin segurou um de seus bunshins, mantendo-o imóvel com um "mata-leão", usando-o como escudo para a primeira fuuma shuriken. No momento em que o clone se desfizera, segurou a shuriken antes que caísse e usou-a para rebater a segunda, enviando-a de encontro ao segundo clone, desfazendo-o também, ainda no mesmo pique, o homem lançou a shuriken de volta para Kojiro, com velocidade superior a do lançamento original. O garoto saltou para cima, impulsionado com chakra nos pés, de forma que a shuriken passasse por baixo dele. Antes que pudesse perceber, seu inimigo havia disparado em sua direção, segurando uma katana em sua mão direita. Teve de pensar rápido e agir ainda mais rápido. Pegou a fuuma shuriken fincada na árvore e fechou-a, fazendo com que as quatro lâminas ficassem uma embaixo da outra. Utilizou essa arma improvisada como defesa, parando a investida da katana. Ambos possuíam um olhar frio, ambos mantinham uma real intenção assassina. O atrito entre as lâminas gerava pequenas faíscas, que se perdiam no ar, enquanto ambos analisavam o próximo movimento, um do outro. Era uma luta de estratégia, quem "previsse" primeiro, ganhava.
     A velocidade com que aquele homem efetuava seus movimentos, era surpreendente. Em um rápido giro, fez com que sua lâmina levasse a de Kojiro até o chão, estando livre para atacar. Ainda no mesmo giro, desferiu um grande corte no tronco do rapaz, que ia do ombro esquerdo até quase a cintura, no lado direito do corpo, havia feito um corte grande na diagonal. A dor era inevitável, um corte daquele tamanho era algo sério e não deveria ser ignorado. Ele fez justamente o contrário, deixou para sentir dor depois, agora não era o momento. Segurou a fuuma shuriken ainda fechada, pelo seu centro circular e levantou-a (o inimigo estava a menos de um metro em sua frente), abrindo-a rapidamente. Duas das quatro lâminas acertaram-no. Em um momento de desespero, lançou a arma contra o inimigo, na intenção de corta-lo ao meio.
     Como sempre, seus movimentos eram surpreendentemente rápidos. Afastou-se com um shunshin, de forma que a shuriken passasse reto, atingindo e permanecendo em uma árvore próximo de onde estavam. Ambos estavam feridos e sangrando, Kojiro com um corte gigante em seu tronco e o nukennin com dois cortes profundos na lateral de seu abdômen. A batalha estava aproximando-se de seu ápice. A katana do foragido estava caída no chão, ao lado do chunnin, ele havia deixado-a cair no meio do salto. Com sua mão direita, Kojiro pegou e jogou-a de volta para o dono, retirando uma kunai de sua bolsa, com a mesma mão, mantendo a esquerda atrás de seu corpo. Um sorriso frio e um tanto quanto sanguinário nascia em seu rosto. Seu oponente pôs-se a correr no momento em que pegou a katana, desferindo um golpe de cima para baixo, que foi parado com a kunai. Com a outra mão, agora a mostra, cravou uma segunda kunai no peito do homem, que agora cuspia sangue. - Você tem um nome? - perguntou, enquanto ele caia no chão, perdendo a consciência. - Se... Seiji... - disse-lhe com dificuldade, momentos antes de perder totalmente a consciência e, consecutivamente, a vida.
     Não estava em suas melhores condições, sua blusa e camisa haviam sido perdidas, estava com retalhos gigantes cobrindo o corte em seu tronco para impedir que a ferida sangrasse ainda mais. Havia fuçado um pouco dentro do barco de Seiji e encontrado algumas body bags (espécie de saco para cadáveres) ali dentro, possivelmente aquele Daimayô não teria sido sua unica vítima, ou se tivesse sido, provavelmente era a primeira de uma lista. Colocou o corpo do nukennin dentro do saco e rumou de volta para Kiri, retirando a fuuma shuriken da árvore e guardando-a, não iria deixa-la para trás. Antes de partir, fincou a katana de Seiji profundamente no solo, no local de sua morte, algo como uma homenagem, não tinha tempo para preparar algo bonito, aquilo estava de bom tamanho. Seu pensamento agora era apenas um: retornar, entregar o corpo e passar alguns dias no hospital, sua atadura improvisada não iria aguentar por muito tempo, e claro, teria de comprar novas roupas.

     Estava mais uma vez em uma missão para o bem de sua vila. Ou melhor, reformulando a frase: para o bem do kage de sua vila. Segundo as informações que lhe foram passadas, uma espécie de armadura fora roubada de Kiri, armadura essa pertencente ao mizukage. Por que ele tinha que fazer isso? Isso não seria uma questão mais para o lado pessoal? Não faz sentido isso ser uma missão da vila. Partiu sem reclamar, ou melhor, sem dizer reclamação alguma, mas em seus pensamentos, haviam inúmeras. Não fazia a menor ideia de quem era o sujeito alvo, de qual era a vila alvo ou de qual era a maldita armadura roubada. O que diabos ele estava fazendo ali, afinal?
     Já fazia um bom tempo desde que deixara a vila, viajava sem um rumo certo, andava para frente seguindo uma estrada mal feita. Distante, a alguns kilômetros, podia-se ver uma cidade (estava no cume de um monte), ou melhor, uma pequena vila. Iria começar por ali, provavelmente não obteria informação alguma, mas iria tentar. Desceu o morro, ainda na maldita estrada, permanecendo nela até a entrada do vilarejo. Era um local pacato, sem muita movimentação. A maioria dos comércios fechados e alguns abertos aqui e ali. Esse seria seu começo. Passou de loja em loja, barraca em barraca, perguntando sobre alguma armadura, alguma coisa diferente, qualquer informação que pudesse arranjar. Em pouco tempo, pôde perceber olhos curiosos vigiando-o, talvez tivesse começado pelo lugar correto, tinha essa sensação.
     Quase ao final de sua jornada naquela vila, Kojiro foi abordado por dois homens. Aparentemente dois shinobis, apesar de não possuírem nenhum símbolo indicando a qual vila pertenciam. Um segurou o rapaz pelo ombro, enquanto o outro simplesmente apareceu em sua frente. Shunshin? Realmente rápido. Ambos seguravam kunais em suas mãos, possivelmente, o rapaz estava em maus lençóis. Foi levado para fora da vila, "sob custódia" dos dois shinobis, não estava amarrado nem sofrera qualquer tipo de dano, apenas concordou em segui-los, ou melhor, ser seguido. Talvez estivessem levando-o onde queria chegar. Não era muito distante do vilarejo, cerca de um a dois kilômetros e lá estavam. Não era nenhum tipo de esconderijo super secreto, muito pelo contrário, era um enorme casarão de madeira, com um lago na frente e várias árvores ao redor, bem bonito, diga-se de passagem. Entrou, ainda com a escolta seguindo-o. À sua direita, no hall principal, encontrava-se um manequim com uma armadura azul, dentro de um caixote de vidro, seria aquela a armadura roubada?
     A sala principal, ou então sala do trono, se é que aquilo fosse um trono, era bonita e bem adornada cheia de coisinhas que não serviam para nada, além de ocupar espaço e enfeitar. Parou na frente do suposto chefe do bando, os outros dois que o seguiam afastaram-se e deixaram a sala. O homem tinha uma aparência jovem, não deveria ser muito mais velho que Kojiro, no máximo, cinco anos a mais, esse era seu palpite. - Era você quem perguntava por aí sobre minha armadura, garoto? O que ela tem que lhe interessa tanto assim? - Perguntou com um tom superior, cabeça erguida e ainda sentado sobre sua cadeira-trono. - Não sei, talvez seja o tom azulado, eu gosto de azul. - retrucou com sarcasmo e um sorriso no canto da boca. Seus olhos rubros estavam fixos nos olhos do líder da gangue, tentando deixa-lo desconfortável, o que aparentemente não funcionava tão bem. - Você tem coragem, criança. É de Kiri, certo? Veio tentar pega-la de volta? - o homem ainda mantinha o ar superior, isso estava deixando Kojiro irritado, de verdade. - Tentar não, eu diria simplesmente pegar, sem nenhuma interrupção, algo contra? - nem terminou de falar e o homem pôs-se a gargalhar, de forma alta e grosseira, levantando-se. Kojiro havia sido ainda mais rápido, o que estava prestes a fazer requeria um pouco de tempo e ele havia começado algum tempo atrás. Suas mãos movimentavam-se ligeiramente, até que o último selo fora formado. - Suiton: Suiryudan no Jutsu!
     A água do lago em frente ao casarão levantou-se toda, deixando apenas o buraco vazio. Um dragão de água enorme se formou e avançou contra a construção, destroçando a parede dianteira, atingindo os dois guardas que acabaram de entrar na sala e indo em direção ao líder. Dois já haviam sido eliminados. Estar em um lugar com água era realmente vantajoso para Kojiro. O dragão chocou-se contra o local em que o homem estava, acertando o vazio e encharcando todo o recinto. Ele havia escapado de alguma forma e agora estava um pouco para o lado, cerca de sete metros. Os outros dois estavam apagados no chão, sem reação alguma. O sorriso no rosto do rapaz apenas aumentou no momento em que seu inimigo disparou em sua dureção. Havia se recuperado do corte em seu peito não fazia muito tempo, por outro lado, estava pronto para o que viesse. A cerca de dois metros um do outro, Kojiro agiu novamente, já havia feito os selos necessários (bem menos que da outra técnica) e então bateu a palma de sua mão no solo completamente molhado - Suikodan no Jutsu! -, proferu, enquanto um enorme tubarão de água e chakra se formava e engolia o inimigo. O tubarão se desfez a uma certa altura, derrubando o homem em que estava em seu interior em direção ao solo, no lado dos outros dois. Todos eles inconscientes. Estava visivelmente irritado, ele não era normalmente assim, mas aquele homem conseguiu tira-lo do sério com sua arrogância. Retirou a armadura do caixote e levou-a embora consigo, em direção a Kiri, com um pirulito entre os dentes. Quanto a que vila era aquela, ele não tinha a mínima noção, provavelmente nem tinha um nome, servia apenas de fachada.

 
 
     E ali estava ele, mais uma vez envolvido nos assuntos internos de sua vila. Segundo as informações que lhe foram passadas, um dos jounnins de Kirigakure no Sato estava traindo sua nação, era seu dever localizá-lo, e lidar com o que diabos tivesse de fazer com ele. A questão ali era apenas uma: Isso é missão para se dar a um chunnin? Deter um jounnin? Kojiro tinha suas estratégias e seus meios para conseguir concluir seus objetivos, mas ainda era um tanto quanto errado essa missão ser dada a um chunnin, ao menos era esse seu pensamento. Armou-se "até os dentes", todos seus artefatos ninjas estavam dentro de sua bolsa, presa na parte traseira de sua cintura. Não sabia o que teria de usar, melhor levar tudo. Ótimo, por onde começar? Teria de descobrir alguma movimentação suspeita entre os shinobis de alto nível de Kiri, torcia para que seu alvo não fosse Kanchi Taipu (rastreador), isso dificultaria muito as coisas. No momento, estava havendo algum tipo de atração no centro da vila, muitos moradores e ninjas estavam reunidos no local, incluindo a maior parte dos jounnins. Posicionou-se em cima de um dos mais altos prédios, relativamente próximo do aglomerado de pessoas. Tratou de se esconder, porém, manteve sua visão atenta ao que acontecia lá em baixo.
     Pouco a pouco, após um longo tempo de espera, as pessoas deixaram o local. Residentes das vilas voltavam para suas casas, grupos de shinobis classe baixa (gennins e chunnins) iam para algum local que não lhe interessava, seus olhos estavam fixos nos que sobraram. Eram praticamente todos jounnins. Havia cerca de sete pessoas ali. Três foram para um lado e quatro para o outro. Ótimo, qual seguir? Antes de mais nada, permaneceu onde estava, enquanto sua visão lhe permitia observar ambos os grupos. Foi então que percebeu algo no mínimo diferente, no grupo de quatro ninjas, um desviou seu caminho sem que os outros percebessem, entrando em um beco escuro da vila. Iria começar por ali. Saltou por sobre as casas e construções diversas, de modo furtivo, para que não fosse descoberto. Ali estava ele, conversando com a porta de uma das casas daquele beco. Provavelmente pegando informações para repassá-las a quem quer que seja. Por falta de atenção, ao tentar aproximar-se ainda mais, Kojiro esbarrou em um amontoado de latas que havia no telhado, fazendo com que um alto barulho de metal rolando pudesse ser escutado em toda vizinhança, ótimo, furtividade zero por cento. - Espere um segundo. - Disse o homem ao informante e então saltou para o telhado. Kojiro sumiu do local em um rápido shunshin, antes que fosse descoberto. - Estranho... - Reclamou o jounnin enquanto reparava nas latas, que ainda rolavam sobre o telhado.
     Teve de afastar-se o máximo que pôde, indo parar a algumas quadras de sua posição anterior. O jounnin ainda estava no telhado, reorganizando as latas. Kojiro observou de longe, sem poder ouvir nada, aparentemente havia acabado com a pequena reunião, tendo em vista que seu alvo foi embora, saltando sobre as casas. "Hora da perseguição", pensou o rapaz, seguindo o homem a uma distância segura, porém, sem perdê-lo de vista. Parou no mesmo momento que o jounnin, aproximando-se sorrateiramente de onde ele estava. Se tratava de outra casa, mais um ponto de informações. Ficou por um bom tempo ali escondido, apenas escutando o que conseguia e tentando analisar os fatos. Ao invés de segui-lo quando se retirasse, iria entrar na casa e conseguir informações por conta própria. Ficou por quase uma hora parado, até que o jounnin pôs-se a correr, provavelmente indo para o próximo ponto. Kojiro saltou do telhado onde estava, juntamente com dois kage bunshins. Entrou na suposta casa/ponto de informações empunhando uma kunai. O residente do local era apenas um shinobi comum, aparentemente um chunnin, assim como ele. Lançou a kunai sem dizer uma palavra sequer, em direção à lateral de seu pescoço, não na intenção de acertar, apenas assustar.
     ▬ Qualquer informação que tenha sido passada àquele homem, eu ficaria feliz em sabe-las. - Proferiu com um sorriso no rosto. Não era um riso frio, sanguinário ou coisa do tipo, pelo contrário, era um sorriso alegre. Talvez isso fosse o motivo do "inimigo" estar tão assustado. Os bunshins correram na direção do informante, um deles retirou a kunai da parede e devolveu-a a Kojiro, logo em seguida, ambos imobilizaram o alvo, sem esforço algum, ele estava aparentemente paralisado por algum motivo. - Ele queria saber onde o Mizukage está... Ele planeja aplicar um golpe de estado, junto com alguns shinobis de fora da vila. - Balbuciou com visível medo, provavelmente ele estava sendo ameaçado de alguma forma pelo jounnin. Missão completa, as informações foram coletadas. Desfez ambos os bunshins e saiu da casa, o garoto ainda estava em estado de pânico, era melhor esse assunto ser resolvido o mais rápido possível. - Então quem derrubou todas as latas naquele telhado foi você, criança? Enviar um pirralho para me espionar... O alto escalão de Kiri deveria me respeitar mais, sabe. - Sim, o jounnin havia preparado uma armadilha, o que ele não esperava era uma armadilha para a sua armadilha. Atrás dele, três membros da ANBU apareceram com o auxílio de shunshins, imobilizando o jounnin. Aparentemente eles estavam seguindo Kojiro desde que recebera a missão, de modo impecável, nem mesmo o rapaz percebera estar sendo seguido. - Nós respeitávamos... Enquanto era um shinobi honrado, agora não mais. - Com isso, os quatro desapareceram: o jounnin traidor e os três membros da ANBU. Kojiro fez seu caminho de volta para o escritório do mizukage e entregou todas as informações que possuía. Esperava que o pânico daquele shinobi aflito passasse, agora ele não estava mais sob ameaça, pensava ele enquanto retornava para sua casa.