Entrada da Akatsuki

Depois de um bom tempo planando pelos céus azuis, sentindo as nuvens e a umidade familiar, River sentiu uma queimação incomum vinda do anel que começou a pulsar, como se estivesse tentando lhe dizer alguma coisa. E então, apenas deixou o sentimento que o item lhe transmitia lhe guiar pelo céu, pelo desconhecido, planando por arvores, rios, campos inteiros. E então surgiu a montanha. Curiosa, mas tudo parecia que era o lugar onde o anel desejava estar. Aterrissou em uma área plana, onde liberou seu falcão para caçar o que quisesse. Sorriu mas logo deixou a seriedade e o temor lhe dominar.

Sentiu algo familiar, algo saboroso vir de dentro de uma gruta que se abria lentamente a sua frente. Não pode hesitar ou sequer pensar. O anel havia lhe convocado, era ali que ela deveria estar.

Entrou destemidamente carregando o livro em um dos braços.

Sentiu seu corpo estremecer, como se estivesse parada a muito tempo, ainda carregando aquele livro, pressionando-o em seios, sentindo-o quente e duro contra seu corpo. Era aquela sensação de aperto e calor que sentia quando via o Hokage, embora o tempo passasse e tudo que restara estivesse dentro, envolvido e eternizado naquelas páginas de um livro tão curioso e perverso, mas tão amado e zelado. Era como o amor que ela insistia não sentir mais.

O clima frio era ainda mais convidativo para a moça. Combinavam perfeitamente com suas roupas: armaduras e plumas, delicadamente unidas em um visual de matar. E naquela situação, ela se via com uma águia. Analisando e traçando um novo rumo a cada passo para fora daquele lugar putrimundo que agora, talvez, fosse sua “casa”, seu refúgio do mundo.

Seu falcão já a aguardava entre as coníferas de um bosque intenso e sombrio, ao longe, distante da posição de River diante a estrutura rochosa que era forçada a tocar para sair e entrar daquela gruta. Odiava aquele tipo de solo. Ressecado e sempre gelado. Volta e meia, úmido e escorregadio. Não era o tipo de chão que ela poderia confiar totalmente. Mas não precisou vagar até o falcão, quando o mesmo imediatamente fora até ela, andando estrambelhado com as patas bem separadinhas e as asas semiabertas. “Parece um pombo”.

Embora a aproximação fosse um tanto engraçada para a moça, o reencontro fora intenso. Tocou com uma mão o bico da criatura e afagou-a com um carinho jamais visto por parte da mulher. Apoiou a própria cabeça sobe as penas finas que ficavam em cima do bico curvo e bem talhado. Suspirou, fechando os olhos, sentindo aquela perfeita conectividade entre Invocador e Criatura. Porque jamais havia feito aquilo antes? Lhe provocava uma paz incrível.

Ela abriu os olhos, e novamente encontrou-se com a criatura, sua mão não parava um estante de deslizar sobe as penas finas e muito bem posicionadas próximos ao bico, indo para o pescoço alto. E naquele instante, desejou que aquele falcão fosse um homem. Sabia que, aquele, certamente a amaria da mesma forma que ela fosse o amar: com uma intensa devoção e companheirismo – afinal, era este o atual relacionamento destes, mas com um homem... não seria tão distante e oculto esse sentimento. Pensou se um dia viveria aquele tipo de coisa com o Hokage e infelizmente sabia que a resposta não era tão favorável.

Soltou o companheiro e deslizou a mão por sua lateral, indo para as asas que encontravam-se encolhidas contra seu corpo. Imaginou se ele também sentia frio, mas dispensou essa ideia. Com um salto, montou em cima da águia, ficando de pé em seguida. Olhou para o horizonte e soltou um assobio de comando, que imediatamente fez o falcão abrir as asas e tomar um voo suave. E apenas bem no alto, onde o frio já poderia ser considerado incomodo, ela sentou entre as penas e afagou-se contra o livro. Sentiu o calor vindo de ambos – de seu falcão e do couro e folhas do livro.

A partir dali, ela sabia, não existiria companheiros ou amigos – apenas inimigos e rivais, pessoas a qual ela deveria se afastar ou aniquilar.